PERIGO NO AR
Moro em Lorena, no estado de São Paulo, há mais de trinta anos. Uma das coisas que mais me agrada aqui é o cenário. Duas lindas serras. Cada pôr do sol que surpreende pelas variações de cores: rosa, laranja, cinza azulado, violeta, dourado, vermelho... e às vezes o céu é tão azul que só de olhar, a gente fica feliz. Sinto-me privilegiada quando volto para casa no final da tarde e vejo um bando de garças desenhando um V no espaço. Aliás, o querido poeta Manoel de Barros , no seu livro "Poemas Rupestres" (Editora Record, 2004) tem um poema que explica direitinho esse deslumbramento. GARÇA A palavra garça em meu perceber é bela. Não seja só pela elegância da ave. Há também a beleza letral. O corpo sônico da palavra E o corpo níveo da ave Se comungam. Não sei se passo por tantã dizendo isso. Olhando a garça-ave e a palavra garça Sofro uma espécie de encantamento poético. Pois é, ainda dá para respirar e olhar para o céu em Lorena. Mas até quando? O anúncio da vinda d